Fotógrafos brasileiros elegem suas melhores fotos de 2019
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Tradicionalmente, a época de final de ano remete à retrospectivas. E não é diferente para fotógrafos, inclusive da imprensa, os chamados fotojornalistas, ou repórteres fotográficos. Depois de ver a Retrospectiva 2019 em 100 fotos pelo olhar da agência Reuters, dessa vez fotojornalistas brasileiros, do jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), elegeram seus melhores cliques durante o ano de 2019.
Abaixo você confere o clique, o nome do fotógrafo, a data do registro e um breve resumo do contexto da foto. Vamos nessa?
As melhores fotos de 2019
Segundo os fotojornalistas do Estadão, estes são os cliques que marcaram o ano, confira:
Bolsonaro aponta para faixa presidencial durante posse
Fotógrafo: Wilson Junior
Data: 1º de janeiro
"Cobri todo o processo de impeachment da Dilma e também fiz a campanha presidencial do Bolsonaro. Fui do Rio (onde trabalho) para Brasília para cobrir a posse. Foi muito cansativo. A posse foi marcada por um esquema enorme de segurança. Por volta de 5, 6 horas da manhã, entramos em um ônibus, e a minha posição de imagem era o Parlatório, onde ocorre a troca de faixas. Eu estava no local desde as 7 horas da manhã e a foto aconteceu entre 4 e 5 da tarde. Achei também a foto inusitada, aquela expressão do Bolsonaro com a faixa presidencial. Acabou virando o símbolo da posse".
Canteiro de obras da nova Estação Comandante Ferraz, na Antártida
Fotógrafo: Clayton de Souza
Data: 23 de fevereiro
"Chegar a um lugar como a Antártida é difícil e o desafio logístico de produzir uma foto dessa é enorme. Ela foi feita com drone, em temperaturas o tempo todo abaixo de zero, nevando e ventando. O tempo muda muito rápido lá. Você sai para fotografar achando que vai fazer uma linda foto, bate um vento e, três minutos depois, começa a nevar, você tem de voltar para a base porque não aguenta o frio. E ir à Antártida também não significa fotografar a Antártida. Você pode chegar e não desembarcar do navio, porque o tempo não permite. Você pode nem sair do Chile (de onde partem os navios que levam ao continente). Por tudo isso, quando essa foto aconteceu, fiquei muito feliz. E também era um sonho ir para lá. Do primeiro pedido à efetivação da viagem foram três anos e, até o momento em que a gente pisou lá, ainda não tinha certeza de que ia rolar".
Enterro de Caio Lucas, um dos mortos no ataque à Escola Raul Brasil, em Suzano
Fotógrafo: Werther Santana
Data: 14 de março
"Eu estava de folga naquele dia, acordei cedo, olhei a TV e vi a notícia: tiroteio em uma escola em Suzano. Eu moro lá. Cheguei em 4 minutos à Raul Brasil, que eu já conhecia. Vi tudo, cheguei junto com os bombeiros. Trabalho com fotografia há mais de 20 anos, mas nunca fiquei tão mal como naquele dia, não dormi. Fiz fotos dos bombeiros tirando os corpos da escola... A foto escolhida foi feita durante o enterro de um dos alunos e naquele momento caiu um temporal. A menina está chorando muito, ali você vê o desespero da perda, você sente a dor da pessoa. Não imaginava que uma coisa dessas aconteceria do lado da minha casa. Eu não teria como não escolher uma foto de Suzano para essa retrospectiva".
Ex-presidente Temer é detido em SP e levado para o Rio de avião
Fotógrafo: Felipe Rau
Data: 21 de março
"Essa foto do ex-presidente Temer sendo preso foi feita no Aeroporto de Guarulhos. No Terminal 2 tem uma área externa e você consegue ver a pista por uma grade com vários furos de mais ou menos 2 centímetros. Tive de fazer essa foto por um desses buracos. Foi bem difícil, tanto é que ela não é tão nítida, porque você não consegue trabalhar no foco automático, tem de trabalhar no manual. Fiquei ali 'plantado', não podia sair nem por um segundo porque, se saísse, poderia perder a foto - e sabia que teria 2 ou 3 segundos para fazer o clique. E é uma foto importante, jornalisticamente falando".
Bolsonaro fica debaixo de chuva durante cerimônia no QG do Exército
Fotógrafo: Dida Sampaio
Data: 17 de abril
"Sou repórter-fotográfico da sucursal de Brasília. Atuo na cobertura de Palácio do Planalto e do Congresso Nacional. Na manhã de 17 de abril, acompanhava o discurso do presidente Jair Bolsonaro no QG do Exército quando ele foi surpreendido por uma chuva na hora em que destacava a atuação dos militares no 'momentos difíceis' do país. O registro habitual de uma cena envolvendo o chefe do Executivo teve, nesse dia, a importância de mostrar um presidente que não podia fugir do aguaceiro e ter outra reação a não ser aguentar o incômodo do terno enchacado. Como político há décadas, o ex-capitão tem consciência de que um clique pode registrar um momento político importante ou olhares de avaliação das pessoas próximas, um instante decisivo para quem depende da imagem público".
Willian comemora o gol contra o Peru pela Copa América
Fotógrafo: Sergio Neves
Data: 22 de junho
"Essa foto foi feita no jogo Brasil x Peru, pela Copa América. A partida foi na Arena Corinthians, em São Paulo, quando a seleção 'desencantou' e goleou o Peru por 5 a 0. O Willian fez um dos gols e comemorou com Gabriel Jesus e Firmino. Escolhi a foto mais pelo clima de alegria, de alívio com o gol. Fiz dois jogos da Copa América em São Paulo (o outro foi Argentina x Chile) e você precisa de sorte. Você está ali posicionado, geralmente do lado do banco, porque o jogador tende a comemorar ali, mas é sorte pegar o lance da comemoração, porque o jogador pode ir para o outro lado. A gente brinca que não adianta escolher, escolher, escolher, e o cara correr para o outro lado".
Daniel Alves levanta a taça de campeão da Copa América, no Maracanã
Fotógrafo: Alex Silva
Data: 7 de julho
"Escolhi essa foto porque foi o grande momento da final da Copa América, no Maracanã. Como faço futebol direto, já estava ligado, sabia que o Daniel Alves sempre faz esse gesto (de levantar a taça acima da cabeça) e estava ligado nele, esperando por isso. E havia um clima festivo, de Brasil campeão - todo mundo estava confiante de que a seleção ia ganhar mesmo. Havia gente do mundo inteiro lá para registrar o jogo, então, você precisa chegar muito cedo ao estádio e, claro, ficar ligado para não perder os momentos, os lances que marcaram a partida".
Enterro de detento morto em massacre em prisão de Altamira, no Pará
Fotógrafo: Daniel Teixeira
Data: 31 de julho
"Chegamos a Altamira (no Pará) no dia seguinte ao massacre dos presos. Fomos direto para o IML, onde encontramos os familiares dos mortos. Pelo número de vítimas (62, no total), já esperava um grande número de covas. Então, fomos para o cemitério e ficamos aguardando os familiares. Fiz vários fotos de baixo, até me dar conta de que a foto deveria ser de cima. Subi o morro e esperei uma família trazer o caixão. Essa foi a pauta que mais mexeu comigo no ano. É trágico, mas também acho importante mostrar uma cena como essa. Não é a primeira nem a segunda ou terceira vez que isso (massacre em presídio no Brasil) acontece. Então, para não esquecer que isso está acontecendo, acontecendo, acontecendo, a gente tem de mostrar, mostrar e mostrar, para não cair na banalidade, senão a gente normaliza o absurdo".
Atriz Sônia Braga durante lançamento do filme 'Bacurau', em SP
Fotógrafo: Hélvio Romero
Data: 20 de agosto
"A foto foi feita depois de uma coletiva enorme (de lançamento do filme Bacurau). Fiquei esperando e, no momento em que a Sônia Braga ia embora, parei para fazer a foto. Foi muito rápido, tive 10, 12 segundos. Mas achei legal porque, durante a entrevista, ela falou da coisa da velhice, da idade, você vê as rugas dela e ela acha lindo do jeito que está. Me identifiquei muito. E é muito legal você se assumir como é. Pode não ser a melhor foto, mas foi a que mais gostei de ter feito, pelo tema e pela disponibilidade dela. E Sônia Braga é um ícone também, né? Lembro de, moleque, ir ver filme dela. Às vezes, a gente vai fotografar alguém e sente uma ligação, um carinho. Você consegue ser mais senível na hora da foto, usa mais o coração do que o dedo".
Entregadores descansam entre turnos de trabalho na Avenida Faria Lima
Fotógrafo: Tiago Queiroz
Data: 13 de setembro
"A situação dos bike boys é um assunto que me fala ao coração há algum tempo. Há uns 2 anos, estava fazendo uma pauta sobre startups e me deparei com um monte de meninos com suas bicicletas e as caixas de entrega reunidos em uma praça na Vila Olímpia. Ninguém ainda tinha falado deles. Fui conversar, havia histórias ótimas, mas na época não percebi que era algo mundial. Corta a cena, 2 anos depois, me colocaram em uma pauta sobre bike boys. Eles têm um drama muito maior do que o enfrentado pelos motoboys. Muitas vezes, não conseguem voltar para casa e dormem na rua. Eu estava na Faria Lima para outra reportagem e vi essa cena. Saí correndo para fotografar e na hora percebi que era uma boa imagem. Depois que a reportagem saiu, coloquei a foto no meu Facebook e teve quase 1 mil compartilhamentos. Foi também a que mais teve impacto em um fim de semana no Instagram do Estadão. Criou asas. Para mim, ela retrata a precarização do trabalho como a gente conhecia. Fico triste quando vejo aqueles meninos da foto, eles estão quase em situação de rua".
Show da banda Iron Maiden no Estádio do Morumbi, em SP
Fotógrafo: Rafael Arbex
Data: 6 de outubro
"O Iron Maiden é daquelas bandas que fazem um espetáulo, montam cenário, têm o palco planejado. E está ficando velha e acabando, não estão surgindo outras com esse apelo. E era uma banda que eu não tinha fotografado ainda. Fotografar show é sempre complicado. Onde a gente fica estão também os outros fotógrafos, segurança, bombeiro, assessor, você tem de se esquivar, entrar nos cantinhos, meio que prever para onde o fotografado vai, a hora que ele vai chegar perto, se você está com a lente certa para compor o que você quer. É bem rápido, três músicas (tempo padrão que os repórteres fotográficos têm para registrar um show) passam bem rápido.
Bolsonaro aponta para o ministro Sérgio Moro em cerimônia em Brasília
Fotógrafa: Gabriela Biló
Data: 15 de outubro
"Às vezes, a pauta em si não é relevante, mas pode render uma boa imagem. O presidente foi participar da cerimônia de hasteamento da Bandeira na frente do Palácio da Alvorado. Nós fotógrafos tínhamos dois posicionamentos onde podíamos ficar. De frente para o palácio, onde os ministros e o presidente ficariam de lado para a gente, ou de frente para o presidente e os ministros. Em teoria, a segunda era a melhor posição. Então, Bolsonaro veio se posicionando, e outros fotógrafos foram fazer a foto de frente. Como sabia que ainda tocaria o Hino Nacional, sabia que tinha tempo de deslcoamento, não precisava ir tão antes (para a segunda posição), e percebi que o presidente virou de costas para os fotógrafos, para conversar com os ministros. Esse foi o motivo pelo qual muitos fotógrafos não fizeram essa foto. E eu segurei minha posição. E então ele começou a gesticular e fiz a sequência dos gestos. Aí, vi que ele apontou para o Moro e pensei: 'Nossa, é uma boa foto'. E tinha a ver com o momento, com o contexto político. Fiquei muito surpresa com a repercussão. Sabia que a foto era boa, mas me surpreendeu. Costumo dizer que a parte mais difícil do fotojornalismo é o posicionamento, esse é o grande desafio, em que você perde ganha todos os dias. No fim, a boa foto é sobre posicionamento, esse é o grande desafio, em que você perde e ganha todos os dias. No fim, a boa foto é sobre posicionamento. É uma aposta".
Cantora moçambicana Lenna Bahule
Fotógrafo: Serjão Carvalho
Data: 15 de outubro
"Normalmente faço cobertura de música, e acho que é legal poder valorizar uma cantora. Acho que a (moçambicana) Lenna Bahule é o reflexo dessa nova onda de imigração, desse povo que veio para cá e colocou um pouco mais de melanina na música brasileira. Queria, com a foto, valorizar a cantora e as cores. África sempre remete a cores. Ela estava com um visual legal, em um lugar legal, um clube de jazz. Tentei dar essa elegância do jazz com as cores da cultura africana".
Jovens choram em enterro de menino morto durante ação da polícia em Paraisópolis
Fotógrafo: Nilton Fukuda
Data: 2 de dezembro
"Escolhi essa foto porque, além de ser um fato marcante do ano, a morte de nove pessoas que participavam de um baile funk em Paraisópolis, ela versa sobre vários assuntos relacionados ao País, da falta de acesso á cultura e à diversão para os jovens da periferia à violência policial. O enterro (de Gustavo Cruz Xavier, de 14 anos) foi uma comoção, tinha muita gente lá. Havia crianças e adolescentes da idade dele comovidos, sentidos, principalmente porque era uma criança ali. Talvez o menino estivesse no lugar errado na hora errada, mas os bailes funk muitas vezes são a única opção de lazer para o pessoal da periferia".
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E aí, o que achou das fotos que os fotojornalistas elegeram como as melhores de 2019? Você já tinha visto alguma delas durante o ano? E conta pra gente, qual foi a sua melhor foto de 2019?
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