Fotógrafa cruza o atlântico para crescer
Compartilhe
Zi Fernandes, fotógrafa brasileira em Lisboa.
A Zi atua na área da fotografia de família e casamentos, a convite da Epics, tirou um tempinho para nos contar um pouquinho sobre sua trajetória na fotografia e a sua opnião sobre a imparcialidade do mercado fotográfico para mulheres.
O início da carreira
Epics: Há quanto tempo você fotografa?
Zi Fernandes: Eu fotografo desde os meus 13 anos de idade, então são 15 anos na fotografia. Mas acho que a minha história é um pouco diferente, aprendi a fotografar na escola. Tive a oportunidade de estudar em um lugar muito artístico onde a liberdade e criatividade eram os ítens mais importantes. E com isso, aprendi a fotografar com um compromisso apenas lúdico, foi a minha arma tentando entender as inquietude de adolescente e assim eu ficava no meu quarto criando fotos e selfies diferentes. E as vezes saía a rua para fotografar coisas totalmente subjetivas.
Epics: E você começou fotografando o que?
Zi Fernandes: Por incrível que pareça comecei a fotografar o que fotografo hoje e é a minha paixão: a fotografia documental de família. Isso nos meus 18 anos, nesta época o Newborn já era muito forte, no máximo do BOOM e esse estilo de fotos em casa estava totalmente fora do conhecimento e desejo dos clientes. E eu nunca fui atraída por fotografar bebês assim. Como a minha imaturidade pessoal e profissional era grande, eu não conseguia defender o meu trabalho no meio de tanta procura por Newborn, e acabei deixando um pouco de lado, mas guardo com muito carinho as sessões e percebo que já existia muito do meu estilo ali. Nesse tempo, fui convidada a fotografar ambientes de arquitetura e arte pois a minha família é ligada a essa área, fotografei para revistas de gastronomia, depois trabalhei com fotografia moda para revistas e agência de modelo. Enfim... acho que experimentei de tudo um pouco hahaha e eu gosto disso! Na verdade acho muito importante ter passado por tanto seguimentos distintos.
Fotografando casamentos pela primeira vez
Epics: Como você foi parar na fotografia de casamento?
Zi Fernandes: Fotografar casamentos estava totalmente fora dos meus planos. Sempre achei muita responsabilidade e nunca gostei de usar muitos equipamentos. Eu sempre via os fotógrafos cheios de utensílios pelo corpo e aquilo me assustava. Então essa oportunidade surgiu quando eu estava morando na Irlanda e divulgando o meu trabalho como fotógrafa de moda, uma noiva viu e me chamou para fotografar o casamento. Eu neguei, mas a noiva insistiu muito e aí aconteceu. Quando eu cheguei em casa percebi o quanto tinha AMADO a experiência e a adrenalina de tudo. Eu fotografei do meu jeito, sem estudar muito, os clientes foram surgindo... E junto a isso procurei ajuda em mentorias particulares e cursos para entender o mercado e desenvolver mais técnicas e linguagem e cá estou 3 anos, sempre cheia de crises, porém apaixonada e persistindo. hehe
Fotografar fora do Brasil
Epics: Zi, quais são, na sua opnião os pros e contras de fotografar num novo país?
Zi Fernandes: Bom, começar em um país novo é muito difícil. Mas ao mesmo tempo quando se entende a estratégia torna-se mais fácil. Cada país possui a sua forma de se relacionar com as pessoas e também a forma de valorizar e contratar certos serviços. Na Irlanda vivi uma experiência e aqui em Portugal vivo outra totalmente diferente. O lado positivo é que quando começamos do zero nos damos a oportunidade de nos reinventar. Saímos da rotina e isso é sempre benéfico ao nosso trabalho criativo.
O lado negativo é por muitas vezes sentir-se mais isolado culturalmente, sem redes de contatos e referências, as pessoas literalmente não lhe conhecem e aí começa o desafio. Mas como tudo na vida, temos que tirar as lições pelo lado positivo e costumo fazer assim. Eu adoro mudar de casa e recomeçar então para mim é sempre uma festa! Hahaha
Epics: O que você mais sente saudades de fotografar no Brasil?
Zi Fernandes: Olha, eu sou carioca MEXMO hehehe amo minha casa no Rio de Janeiro. Amo fotografar em Ipanema, Leblon, favelas, interior e cenários do Rio. Gosto demais do serrado, dos índio, no mangue, sertão brasileiro. Eu realmente sinto falta do sorriso brasileiro, que sinceramente existe apenas na gente. Mas infelizmente vivemos em uma cidade onde não temos mais a liberdade para fotografar na rua, como tenho aqui em Portugal e em toda Europa. Todo dia eu saio de casa e carrego a minha câmera no pescoço, isso é impossível no Rio de Janeiro e no Brasil. Em suma, sinto falta da energia de uma país que infelizmente está diferente no momento. Tento compensar isso fotografando também brasileiros aqui fora, mas claro que não é a mesma coisa, falta a tal bossa
A mulher no mercado da fotografia de casamento
Epics: E pode contar o que você ainda ve sobre essa imparcilidade da mulher na fotografia/ e como voce espera que isso mude?
Zi Fernandes: A imparcialidade da mulher no mercado da fotografia de casamento é uma realidade muito triste. Foi muito difícil para mim até mesmo entender a qualidade do meu trabalho em meio a tantas representatividades de estilos masculinos. Eu achava que eu era ruim por não gostar de fazer fotos tão duras e tão dramáticas.
Nos eventos a presença de homens palestrando e nos cursos é muito maior (muitas vezes unânime), bem como nos concursos de fotografia quase sempre os jurados são homens. Não se trata de uma guerra de empoderamento feminino e sim compreendermos que a fotografia é um ponto de vista e vivemos em um meio com olhos masculinos a julgar trabalhos femininos. No geral, estamos nos criando e nos multiplicando em fotógrafos muitos parecidos, pois as inspirações não são diversificadas.
Homens "Inspirando" mulheres que não se sentem representadas por eles. Eu por exemplo prefiro ter aulas particulares a ir a eventos e congressos, simplesmente não dá. Acredito que a minha fotografia é muito feminina. E seria um sonho poder conhecer mais fotógrafas e ouví-las em eventos. Para mudar a realidade acho que temos que ter mais eventos com mais perfis de fotógrafos(as) diferentes e assim multiplicamos inspirações e referência. Não só mais mulheres, mas também temos muitos bons fotógrafos(as), com olhares incríveis que vivem em comunidades, que não conhecemos pois acabamos nos excluindo em eventos que nos limitam a uma realidade que exclui a minoria: mulheres, negros e pobres. Infelizmente a fotografia não é democrática.
O site da fotógrafa é Epics, vai lá dá espiadinha no trabalho dela :)
O que achou? Comente abaixo!
Compartilhe