Como fizemos nosso primeiro registro de um parto
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Às 2 horas da manhã de uma segunda feira no mês de abril de 2019 estávamos eu e a Anny já nos preparando pra dormir quando recebemos uma mensagem no celular: ‘A bolsa estourou... neném a caminho’. Não éramos os médicos da gestante Bruna, nem tampouco a equipe que iria fazer o parto... mas sim os responsáveis pelo registro dele! E que responsabilidade! Era o nosso primeiro trabalho desse tipo: fotografar e filmar o nascimento de uma criança.
A Bruna e o Vinícius são nossos amigos e por essa proximidade percebemos que eles não tinham intenção de registar a gestação e o nascimento do filho Yuri. Foi então que manifestamos essa vontade, que já era um trabalho que gostaríamos muito de realizar. Eles viviam no Rancho Y-Iara, às margens do Rio Paraná, divisa do estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul, na cidade de Panorama; local muito especial em meio a uma conexão muito plena com a natureza. Tinham optado pelo parto humanizado domiciliar e haviam se preparado muito para ele.
Nossas referências para a fotografia de parto
Entretanto, essa era a nossa primeira experiência com esse tipo de registro, tanto fotográfico, quanto em vídeo. Quando ficou decidido que o faríamos, faltava menos de dois meses e sabíamos da necessidade de buscar conhecimento para o fazermos da melhor forma. A nossa fotografia sempre tendeu a um registro mais jornalístico, documental; então, foi com esse pensamento que sabíamos qual rumo tomar, ainda mais se tratando de algo necessário para um trabalho dessa natureza.
Um dos trabalhos mais pesquisados como referência fotográfica pela Anny foi o do Renato DPaula, importante fotógrafo desse segmento. Inclusive, com parte da pesquisa feita diretamente num artigo para um Blog Epics. Essas dicas foram muito importantes e valem a pena a leitura para quem deseja conhecer mais a respeito.
Leia aqui: Dicas para Fotografar Parto com Renato dPaula
Já em se tratando de registros audiovisuais, eu não havia encontrado quase nenhuma referência até aquele momento, embora acabaria conhecendo, após o parto, alguns trabalhos um pouco mais próximos do que eu buscara.
Me vali então das referências do cinema e da própria experiência com a realização de alguns curtas-metragens e documentários que produzira. E foi por esse caminho, pensando mais próximo à linguagem cinematográfica, que cheguei a uma ideia para o vídeo, quando assistimos o filme Roma, vencedor do Oscar 2019 de melhor fotografia (dentre outras categorias), do diretor Affonso Cuarón.
Em preto e branco e com uma narrativa visual incrível, o filme me serviu de inspiração e referência para o roteiro de captação e a própria edição, cujo resultado, se tornaria realmente o curta-metragem documentário ‘de um’ parto, e não somente um vídeo ‘daquele’ parto. Busquei um registro cadenciado pela naturalidade dos acontecimentos e, cuidando em não pecar em exagero, o drama natural e incrivelmente belo de um dos momentos mais importantes da vida: o nascimento!
E foi nessa mesma linha de pensamento estético que a Anny optou por deixar todas as fotografias também em preto e branco, eliminando assim distrações imagéticas, valorizando o drama emocional e prezando pelo uso da luz natural e ambiente como elementos complementares das narrativas fotográficas.
Discrição e atenção total na hora de fotografar o parto
Mas, pelo fato de nunca termos fotografado um parto, nos comportaríamos da melhor maneira?
É evidente que já tínhamos essas questões muito bem definidas pelo nosso olhar fotográfico mais documental e pelo próprio bom senso que esse registro exigia, porém, é válido dizer que, dicas como as do Renato DPaula, ajudaram a definir melhor o nosso comportamento durante todo o processo, que duraria cerca de 10 horas, desde que fomos avisados até o nascimento, e mesmo assim, passando por momentos onde quase não sabíamos como agir.
O parto, ao contrário de um casamento ou outro evento, é algo totalmente imprevisível, ainda mais quando se trata de um totalmente humanizado, podendo, o processo todo, durar cerca de poucas horas, mas também podendo chegar facilmente a mais de 24 horas ou próximo disso. Uma das características que estava evidente o tempo todo era a atenção total aos acontecimentos e a discrição exigida da nossa parte para o registro mais sensível e verdadeiro.
Um exemplo disso foi que, em determinado momento, já quase em transe por conta das dores das contrações, a Bruna pediu para apagar as luzes, fechar portas e janelas, e sair todo mundo. Também entendemos que precisaríamos deixar o ambiente naquele momento, mesmo que pudéssemos deixar de registrar algo importante, pois o bem-estar da gestante e o bom andamento do parto seria sempre a prioridade. Portanto, num instante de alívio e lucidez, ela pediu para que ficássemos juntamente com a equipe que fazia o trabalho; então permanecemos e continuamos o nosso registro, da forma mais discreta possível.
Dicas para fotografar parto
Ao final do processo, a equipe Luz do Partejar, responsável pelo parto, sem conhecer o nosso trabalho, mas com grande experiência em partos humanizados, teceu alguns elogios sobre o nosso comportamento, perguntando-nos quantos registros de nascimento já havíamos feito. Causou bastante surpresa a eles quando dizemos que era o nosso primeiro, por conta da forma que agimos, muito coerente com o trabalho de profissionais mais experientes nessa área. Isso nos soou como grande incentivo para buscarmos mais trabalhos nesse segmento. O que por sinal aconteceria pouco tempo depois, com a Anny registrando outros partos, cada vez com mais experiência.
Então, sem nenhuma pretensão, e sim apenas como reflexão da nossa experiência de um primeiro registro de parto, deixamos algumas dicas que consideramos muito importantes:
- Ser o mais discreto e atencioso possível.
- Evitar o uso de flash ou qualquer luz complementar, pois isso já faria com que a presença do fotógrafo ou cinegrafista pudesse se tornar visível além do necessário (A dica é não usar flash ou luz contínua).
- Jamais interferir no andamento do parto.
- Nunca tocar em nada e evitar ocupar espaços que possam atrapalhar o trabalho da equipe ou médicos.
Trabalho gratificante
Além do fato de termos registrado um momento tão importante na vida dos nossos
amigos, Bruna, Vinicius e o pequeno Yuri, podemos dizer que esse trabalho tem
consequências muito positivas que vão além do próprio registro. Podemos considerar
que as fotografias e o vídeo são uma pequena contribuição que ajudam disseminar a
ideia de que esse momento importante da vida pode e deve ser leve e natural; e assim,
ajudar pessoas diretamente engajadas aos movimentos de humanização do parto.
Também foi através das fotografias desse parto que vieram alguns prêmios em
concursos fotográficos, como a menção honrosa na edição 2020 do “Universo
Feminino – Singular e Plural”, promovido pela Camaçari, o prêmio internacional de
fotografia, bronze na 3ª edição do EPA (Expression Photographers Awards) e o 2º
Lugar na Categoria Parto do Concurso Amarelos.
O filme em curta-metragem foi lançado oficialmente no mês de fevereiro de 2022,
após um longo processo de pós-produção, principalmente por conta da trilha sonora,
composta especialmente para o filme por um amigo do casal, o músico Paulo Lencione.
O filme está disponível na íntegra no Youtube, foi inscrito em alguns festivais e já foi
selecionado para dois deles! O curta-metragem está na seleção oficial do Festival del
Cinema di Cefalù, na Itália, e do First-Time Filmmaker Sessions PinewoodStudios, do
Reino Unido.
A mamãe Bruna ainda teve o seu segundo filho, o Caê, também por meio de parto
humanizado natural e os dois garotos estão crescendo saudáveis e cheios de amor!
Sem sombra de dúvidas, podemos dizer que foi uma das maiores e mais emocionantes
experiências das nossas trajetórias profissionais!
Acesse a galeria de fotos do parto no site Anny Ollyver Fotografia. (Link: https://www.annyollyverfotografia.com.br/parto-e-familias/bruna-romanini-i-parto-humanizado )
Assista o trailer do documentário no site Cine Zero ou Youtube. (Link: https://youtu.be/z2TKbWpPdNw )
Anny e Zero Fotografia
Fotógrafos de Casamento e Ensaios
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